sábado, 2 de outubro de 2010




Um requerimento apresentado pelo deputado municipal Rodrigues Marques, líder concelhio do PSD, fez com que a bancada socialista da Assembleia Municipal de Pombal abandonasse a sessão, realizada ontem. Em causa estava em discussão o assunto do desvio continuado de verbas de uma conta do Município, no valor superior a 500 mil euros.
Depois da intervenção, bastante emocionada, do presidente da Câmara Municipal de Pombal, em resposta a alguns eleitos socialistas, a maioria social-democrata aprovou um requerimento de Rodrigues Marques para que fosse encerrada a discussão do assunto e passassem de imediato ao ponto seguinte da ordem de trabalhos.
O socialista Armindo Carolino que estava inscrito para falar de seguida, acabou por dizer que aquela atitude «é uma maneira airosa de encobrir o que se devia ser falado na assembleia municipal» e comunicou que iria abandonar os trabalhos, tendo sido seguido pelos restantes membros da bancada.
A discussão do assunto foi iniciada pela deputada socialista Odete Alves que recordou a cronologia da actuação do seu partido relativamente aos factos, lamentando que só naquele momento é que a Câmara Municipal deu resposta a um requerimento apresentado pela bancada da oposição em 9 de Agosto.
Também da bancada socialista, Fernando Carolino dirigiu-se ao presidente da autarquia para que « não se deixe embevecer pelo caminho mais fácil, normalmente é aquele que menos agradável se torna no futuro», acrescentando que «perante este facto, deverá aferir das ilações necessárias que o caso merece e de acordo com a sua consciência tomar a posição que melhor se enquadrar as responsabilidades por si e pelo PSD assumidas após a tomada de posse do cargo que ocupa».
Carolino considerou que havia razões para que fosse realizada uma assembleia municipal extraordinária, conforme requerida pelo Partido Socialista, para que fosse constituída uma comissão de inquérito. «Efectivamente tal não foi permitido, possível de acontecer e, tal escusa levou a um descrédito total, por parte dos eleitores, do relevante papel de que todos nós, membros desta Assembleia, somos obrigados a defender», disse o deputado, acrescentando que «muito que podia ter sido esclarecido e a seu tempo a politica local podia ter dado provas de sentido de responsabilidade».
Da bancada social-democrata, João Coucelo disse que a pretensão do partido socialista seria «extemporâneo» e que só tinha um objectivo, «fazer um aproveitamento político da situação». Já que, no seu entender, as averiguações estão a decorrer, desde o primeiro momento, pelas entidades judiciais e de investigação,como é o caso da Inspecção Geral das Autarquias Locais (IGAL) e da Polícia Judiciária.
Já para Rodrigues Marques, todos os elementos do executivo municipal, incluindo os dois vereadores socialistas «são responsáveis». «Estão todos no mesmo barco», disse.Autarca emocionado
Narciso Mota não escondeu a sua emoção para se referir ao assunto. Escudando-se no segredo de justiça o presidente da Câmara Municipal foi parco nos esclarecimentos, tendo apenas dado a conhecer os procedimentos que a autarquia desencadeou a partir de 16 de Julho quando foi detectado o desfalque.
Fazendo referência ao seu percurso pessoal e profissional, o autarca afirmou que «nunca em 44 anos de actividade alguém me comprou a consciência e ninguém me corrompeu».
Narciso Mota não poupou críticas a Fernando Carolino, que desde o início dos factos tem comentado o assunto em blogues e em textos de opinião num jornal local. «É demagogo e será incompetente politicamente toda a vida», considerou.
O autarca garantiu que se fosse responsável pelo desfalque, «tinha carácter e ética para assumir todas as responsabilidades».
«Chorei, durmo e acordo a pensar como é que a democracia permite que aconteça coisas destas», disse Narciso Mota, quase com as lágrimas nos olhos.Caso remonta a 16 de Julho
Os factos remontam ao final do dia 16 de Julho, quando um funcionário da secção de contabilidade verificou que, durante alguns meses, tinham sido transferidas verbas, por via electrónica, de montante superior a 526 mil euros, para outras contas bancárias, privadas tituladas por um outro funcionário municipal. Nessa madrugada, a Câmara Municipal, participou o sucedido à Polícia Judiciária.
No dia seguinte, Vítor Leitão, que exercia funções no Município há 33 anos, foi ouvido pela Polícia Judiciária a quem terá assumido os factos. Ficou com o estatuto de Termo de Identidade e Residência. Nesse mesmo dia, em declarações à Rádio Cardal disse publicamente que tinha sido «enrolado por indivíduos» que o «iludiram» com «situações estranhas com empreendimentos turísticos no Brasil».
Também nesse dia, a Câmara Municipal reuniu de urgência para analisar a situação, juntamente com técnicos superiores e o Revisor Oficial de Contas, e deliberou instaurar um processo disciplinar ao funcionário, tendo-o suspendido de funções.
Na manhã do dia 19 de Julho, Vítor Leitão acabaria por ser detido pela Polícia Judiciária quando procedia a levantamentos de dinheiro em instituições bancárias na cidade de Leiria. Ouvido pelo juíz de Instrução Criminal no Tribunal de Pombal ficou em prisão preventiva.

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